Reportagem











Vivem como adultos de palmo e meio a quem a inocência lhes foi arrancada. Cedo cresceram de mãos dadas com a marginalidade, com a droga, com a pobreza. Herdeiros de uma vida sem exemplos, fogem por entre aquilo que não querem para eles. O CATL- CR, Centro de Apoio em Tempos Livres para Crianças em Risco, caminha com eles em busca de um rumo melhor.

Vamos-lhe chamar “Carla”. Os amigos eram mais velhos. Consumiam drogas pesadas, mas sabiam os limites. Aos 14 anos experimentou a sensação da cocaína e da heroína e nunca mais deixou. “Eu sempre gostei de me sentir alterada”, argumenta agora com 21 anos. Não conseguir suportar as noites frias da rua, foi o primeiro limite.

«O nosso trabalho é complicado devido à proximidade da “farmácia” ». Fátima Viana é monitora do CATL-CR. “ Na farmácia, como os meninos lhe chamam, há de tudo”, comenta. A valência não cansa de tentar combater os problemas da realidade do bairro. O complexo habitacional do Picoto/ Nogueira da Silva estende-se entre o monte do Picoto, um dos locais privilegiados do mercado da droga em Braga. Entre outras brincadeiras, os mais pequenos imitam o que vêem e fazem de conta que são traficantes.

Ela e os dois irmãos não queriam ter visto. Mas viram. “Sara” viu o pai disparar contra o tio. Desde o homicídio que o pai de “Sara” está preso. Agora, escreve-lhe cartas. «A primeira carta que escrevi dizia “amo-te pai”», recorda envergonhada. A família vive no bairro de Santa Tecla, mas frequenta o CATL-CR todos os dias. “Sara” é uma das meninas mais problemáticas do centro. As cicatrizes da violência marcam-lhe a personalidade. “O que eu mais queria é que o meu pai não fizesse mais asneiras…”, diz baixinho.

A sala do CATL-CR tem cor. Júnior desenha um coração que entrega a Ricardo Queiroz. A realidade fora das quatro paredes é dura demais para ser pintada. O monitor dá aos meninos aquilo que lhes falta. “Eles não têm culpa quando são mal comportados”, apela. A tarde acaba. Ricardo manda apenas que lavem aos mãos porque é hora de lanchar.



Agradecimentos:
- Centro Cultural e Social de Santo Adrião
- Nuno Santos

2 comentários:

Longe mas perto disse...

Grande trabalho!Mais não é preciso dizer claro.

Anónimo disse...

Tens a alma grande e um cerebro jornalistico. Resultado: reportagem perfeita.
Adorei:)
Su

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